Cativos às portas do
sertão
No âmbito dos
trabalhos de preservação do acervo documental do Poder Judiciário na
cidade de Feira de Santana, compromisso assumido pela Universidade
Estadual de Feira de Santana - UEFS através do convênio firmado entre esta
instituição e o Tribunal de Justiça da Bahia desde 2004, realizamos um
detalhado levantamento da documentação histórica no Tabelionato do 1.º
Ofício do Fórum Desembargador Filinto Bastos. Neste trabalho, nos
deparamos com o inestimável valor histórico deste conjunto,
especialmente no tocante à história da escravidão. Identificamos uma
documentação inédita, em estado delicado de armazenamento e
conservação, composta de livros, na sua maioria em estado precário,
além de uma série de folhas avulsas e fragmentos de livros
incompletos. A antiguidade dos registros é igualmente digna de nota,
uma vez que a periodização identificada cobre as décadas de 1830 a
1880. |
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A riqueza documental deste precioso e
delicado acervo estimulou a elaboração de um projeto encaminhado à
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB, no ano de 2008,
visando a produção de um catálogo digital dos documentos relativos à
escravidão identificados nos livros de notas do Tabelionato do 1.º
Ofício de Feira de Santana. Para satisfação dos proponentes, o
projeto foi contemplado com recursos financeiros e de pessoal para
realizar o empreendimento proposto à instituição de fomento.
Apresentamos aqui
os resultados do desenvolvimento do projeto Cativos às portas do
sertão: fontes para a história da escravidão e das populações negras
em Feira de Santana e Região (1830-1885). Sua conclusão possibilita
a disponibilização para a consulta pública, pela rede mundial de
computadores, de registros históricos únicos e de fundamental
importância para o estudo da estrutura escravista e da experiência
dos escravizados numa região privilegiada pela localização
geográfica que a tornou, em muitos aspectos, zona de transição entre
o Recôncavo e o Sertão baianos. Neste sítio, o usuário poderá
consultar 775 registros digitalizados de um total de 1.250
catalogados, resultando em 1.867 imagens que incluem: cartas de alforria, escrituras de compra e
venda, hipotecas, escrituras de doação, escrituras de
penhor, recibos e contratos de locação de serviço, escrituras de
destrato e de troca. Do total catalogado, alguns documentos não
puderam ser digitalizados em razão de seu estado de conservação. Trata-se, é bom salientar, de
fontes quase
intocadas pelos historiadores da escravidão na Bahia, agora
acessíveis a todos os interessados no tema.
Por fim, é justo
proclamar que este trabalho foi fruto de um esforço coletivo que
envolveu algumas gerações de bolsistas e pesquisadores vinculados
aos projetos “Fontes e Acervos para a História de Feira de Santana,
Cachoeira e Santo Amaro”, “Itinerários da Memória: comunidades
negras rurais no Paraguaçu (1880-1940)” e, finalmente, ao projeto
"Cativos às Portas do Sertão". Foi também imprescindível na execução
do projeto a assessoria do CPD da UEFS, a infra-estrutura do Centro
de Documentação e Pesquisa - CEDOC/UEFS, a colaboração e a
compreensão da administração e dos juízes e funcionários dos
Cartórios Extra-judiciais do Fórum Desembargador Filinto Bastos. Foi
fundamental o apoio, primeiro do Instituto Pedro Ribeiro de
Administração Judiciária - IPRAJ, na primeira etapa do projeto e,
posteriormente, do Centro de Documentação e Informação - NDI do
Tribunal de Justiça da Bahia. As belíssimas fotos que ilustram o
sítio foram gentilmente cedidas por Luiz Cleber Moraes Freire, pesquisador
do projeto “Cativos às portas do sertão”, e fazem parte de seu
acervo pessoal. A todos, nosso muito obrigado, especialmente à Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado da Bahia pelo patrocínio que tornou possível a
realização deste empreendimento.
Lucilene
Reginaldo
Coordenadora do Projeto |